A Polícia Judiciária (PJ) levou a cabo uma extensa operação na Madeira por suspeitas de corrupção, que culminou na demissão do presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, um dos visados, e do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.
Calado e os empresários Avelino Farinha – que, segundo escutas do processo, trataria por “chefe” – e Custódio Correia – tratado por “meu querido” ou “companheiro” – foram detidos e a CNN Portugal, que teve acesso a uma lista das descobertas da PJ no arquipélago, citou algumas das mais… marcantes.
Entre elas está uma transferência de 7.500 euros do antigo autarca do Funchal para Miguel Albuquerque, que o presidente demissionário do Governo Regional da Madeira terá que explicar à Justiça.
A Unidade de Combate à Corrupção da PJ terá descoberto um comprovativo desta transferência para uma das contas de Albuquerque, que foi entretanto constituído arguido.
Quanto a Pedro Calado, segundo a CNN Portugal, teria vários envelopes com dinheiro e recibos de diversas operações bancárias. Ao todo, em notas, o antigo autarca teria 20 mil euros. Parte deles divididos em 28 notas de 100 euros numa pasta pessoal, para além de 14 mil euros num closet, em três envelopes, um deles com quatro notas de 500 euros. Esse envelope, diz a cadeia televisiva, tinha timbre da Câmara do Funchal.
A mãe, por sua vez, teria 46 notas de 200 euros escondidas em envelopes da autarquia e mais 500 euros em notas de vários montantes numa bolsa de tecido, ao passo que a filha teria 30 mil euros numa conta bancária, em que Calado seria segundo titular, e que seriam, supostamente, do antigo autarca.
Na lista de ‘testas-de-ferro’ constará, ainda, segundo a CNN Portugal, o motorista do antigo autarca, que terá depositado mais de 67 mil euros, entre 2018 e 2021, nas contas de Pedro Calado.
Mas as alegadas descobertas ligadas ao antigo autarca não se detêm aí. A PJ terá descoberto uma coleção de pelo menos 15 relógios de luxo, de marcas como Cartier ou Frank Mueller, um total de 21 garrafas de vinho e de champanhe e esferográficas de marcas de luxo, como Mont Blanc e Chopard. Um dos detidos, Custódio Correia, terá sido ainda apanhado numa escuta a admitir que tinha por hábito oferecer como presentes garrafas de vinho, champanhe e uísque.
Numa gaveta do gabinete de Calado na Câmara terá sido também descoberto um diamante, embrulhado em papel vegetal. Já na sua residência estariam três relíquias religiosas da Arménia.
Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia foram detidos na quarta-feira, na sequência de cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias efetuadas pela PJ sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente.
A operação também atingiu o presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, que foi constituído arguido e oficializou na segunda-feira a renúncia ao cargo, que tinha anunciado na sexta-feira.
Em causa estão suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência, segundo a PJ.
De acordo com documentos judiciais a que a Lusa teve acesso, o Ministério Público refere que o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (PSD), o ex-presidente da Câmara Municipal do Funchal Pedro Calado (PSD) e o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, estabeleceram, “ao longo do tempo, uma relação de particular proximidade e confiança” que terá beneficiado aquele grupo empresarial “ao arrepio das regras da livre concorrência e da contratação pública”.
Entre os contratos alvo de investigação criminal, de acordo com os documentos judiciais estão a concessão de serviço público de transporte rodoviário de passageiros na ilha da Madeira, a concessão do Teleférico do Curral das Freiras, o projeto da Praia Formosa e o Funchal Jazz 2022-2023.
Leia Também: Detidos na Madeira (ainda) não foram ouvidos. Audiência passa para amanhã