O ano de 2024 trouxe consigo uma mudança no Benfica que parece agora estar a recolher frutos. Depois de meia época quase em ‘seca’, os avançados do clube da Luz começaram a fazer o que melhor sabem e para o qual foram contratados: marcar golos.
O facto de Rafa ser o melhor marcador da equipa esta temporada é a prova deste desencontro com os golos dos homens mais adiantados dos encarnados. Além disso, Petar Musa, que está de saída para o FC Dallas, é apenas o quarto goleador do Benfica… com seis golos em todas as competições.
Mas, como já referido, este início de novo ano tem mostrado que os avançados à disposição de Roger Schmidt parecem, agora, mais propensos a ser o chamado ‘abono’ de família do Benfica. Com um nome mais fixo na frente de ataque, a máquina goleadora das águias parece estar de volta.
Depois da saída de Gonçalo Ramos para o Paris Saint-Germain na época passada, o Benfica esteve quase ‘órfão’ dos seus avançados, algo que parece ter mudado. Arthur Cabral está mais entrosado com a equipa e já vai em dois golos este ano. O recém-contratado Marcos Leonardo também está a ser aposta ganha e já leva três golos desde que chegou o Santos. A estes falta acrescentar Tengstedt, que estava em boa forma antes de se lesionar.
Por forma a analisar esta subida de rendimento dos avançados do Benfica, o Desporto ao Minuto esteve à conversa com António Simões, antiga glória dos encarnados. O ex-jogador considera positiva esta melhoria de forma dos dianteiros, sustentando que, agora, Roger Schmidt não poderá estar constantemente a mudar a dinâmica da equipa.
“Isto não é uma questão de sorte ou azar. Parece fácil fazer golo, mas é algo difícil. Está lá uma coisa com 7,15 metros [baliza] e um guarda-redes. São raros os que têm a arte de se tornarem goleadores. Mas os avançados do Benfica não eram tão maus anteriormente nem passaram a ser estrelas agora. Os jogadores acabaram de chegar, é preciso tempo para se adaptarem ao esquema do treinador. Parece agora que o Benfica consegue fazer golos e que o índice de aproveitamento, tendo em conta o número de oportunidades, aumentou. E isso é muito bom. Às vezes a equipa joga bem e não faz golo e cansa-se de jogar bem. Mas os golos são sempre o tónico para se jogar melhor, ou manter o nível de exibição que não se traduz nos golos. E é muito difícil os golos começarem a aparecer”, começou por dizer.
Confrontado com a maior produção ofensiva dos rivais, nomeadamente o Sporting, quando comparada com a do Benfica, António Simões sublinhou que o mais importante é ganhar, seja com uma margem de um golo de diferença ou oito.
“Mais importante que tudo é ganhar, não interessa que seja por uma diferença de um ou de oito golos. O que conta são os golos suficientes para ganhar. Outra coisa é que o Benfica não deve olhar para os outros e deve preocupar-se em aumentar os níveis de finalização para a desenvoltura do jogo que consegue. A preocupação era o Benfica marcar três golos e perder. Não estou preocupado com os adversários marcarem muitos golos e o Benfica não. Estou é preocupado com a equipa ser equilibrada no rendimento, ser uniforme no grau elevado de bem jogar”, prosseguiu.
Depois de uma temporada em que o melhor marcador da equipa foi Gonçalo Ramos com 27 remates certeiros, eis que, até agora, o goleador da equipa é Rafa Silva. António Simões não se mostrou preocupado com este dado.
“Há algumas diferenças do ano passado para este ano. Levou algum tempo para que o Benfica contratasse um avançado de referência e esse homem parece-me ser muito mais o Arthur Cabral do que o Marcos Leonardo. O Rafa é um jogador solto, que anda sempre muito perto da área e aparece nas zonas de finalização. O que me parece é que ele deve melhorar o toque final. Ele melhorou nesse rendimento de finalização, mas pode fazer ainda mais golos. Não tem de substituir o Gonçalo Ramos. O facto de ele aparecer muito em zonas de finalização talvez seja a justificação para que seja o melhor marcador da equipa”, vincou, ressalvando a importância de, agora, a equipa ter uma uma referência ofensiva mais visível quando comparado com o que aconteceu no início da temporada.
“Há mais de 50 anos que é tradição o Benfica jogar com o chamado número 9 a jogar na frente. O Benfica tem sempre de jogar com um homem de referência. Teve um tempo de ausência e isso deu prejuízo à equipa. Agora, parece que encontrou exatamente o homem que joga mais na frente. Por causa da dinâmica do jogo do Benfica, é importante que se tenha um homem de referência e essa presença começa a ser visível. É como se a tradição estivesse de volta. Agora, é manter isso e nada alterar. É preciso também que todos percebam que aquele é o modelo de jogo que o treinador quer, com o ponto de referência. E todos os jogadores atrás dessa número 9 têm de criar uma dinâmica que provoque que esse jogador que joga na frente possa fazer golos”, sustentou.
“Há que olhar e ver as necessidades da equipa. Os responsáveis pelo futebol do Benfica devem ter visto que faltava essa referência, que tivesse essa qualidade de ser ponta de lança e todas as funções associadas. É certo que levou algum tempo, mas parece estar encontrado. Mesmo sem esse ponto de referência, conseguiu não se afastar muito do Sporting. Agora parece estar a melhorar e a marcar golos e a confirmar que é um concorrente de grande competência para conseguir o título. O tempo é que vai dizer se tudo o que estamos a ver se vai manter ou não e se a dinâmica da equipa continua. Antes tivemos alguma desconfiança, mas agora não podemos passar para a euforia. Não é 8 e 80”, acrescentou.
António Simões destacou ainda que esta tardia definição de um homem de referência no ataque deixou o Benfica algo perdido em algumas partidas.
“Depois de uma ausência do tal homem de referência, já encontrado entretanto, a equipa teve de criar novas dinâmicas com esse mesmo jogador e isso demora tempo. O Benfica parecia o ômega, nem atrasava e nem adiantava. Mas livrou-se dessa fase e já se viu isso. Agora encontrou o caminho e não alterar de maneira nenhuma aquilo que foi encontrado. Levou trabalho a ser encontrado e se agora isso não se respeita, vai fazer marcha-a trás. Neste momento, está consolidado e a dinâmica da equipa é diferente”, finalizou.
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