Luta das mulheres por liberdade continua um ano após morte de Mahsa Amini

A previsão é de várias personalidades iranianas e norte-americanas, transmitida durante a semana num debate sobre ‘A Morte de Mahsa Amini: Um ano de Protestos e Reflexões sobre o Futuro’, organizado conjuntamente pelo Instituto para as Mulheres, Paz e Segurança da Universidade de Georgetown, pela organização Freedom House e pela Sociedade Cultural Iraniana.

Amini foi detida pela polícia da moralidade a 13 de setembro de 2022 por alegado uso indevido do ‘hijab’, o véu islâmico, tendo surgido morta três dias depois, ainda sob custódia das forças policiais, o que deu início a um conjunto inédito de contestação ao regime teocrático iraniano, que reprimiu violentamente as manifestações e protestos que ainda se mantêm.

“A luta pela emancipação da mulher no Irão não vai parar. Ninguém vai continuar a tirar-nos a dignidade, integridade e identidade, pelo que vamos continuar a combater pelos direitos das mulheres”, garantiu Azar Nafisi, escritora irano-norte-americana e professora universitária nos Estados Unidos, onde vive desde 1997. 

Para Nafisi, autora do livro ‘Lendo Lolita em Teerão’, escrito em 2003 e proibido pelo regime, a repressão e a violência das autoridades de Teerão “não advém da força mas sim do medo”, pois as regras impostas pela República Islâmica estão a ser combatidas, luta que só terminará quando os direitos das mulheres forem uma realidade.

A contestação que se seguiu à morte de Amini, lembrou, por sua vez, Victoria Taylor, subsecretária de Estado Adjunta para o Iraque e Irão do Gabinete para as Questões do Médio Oriente da administração de Joe Biden, levou para as ruas de todo o país ativistas dos direitos humanos e das mulheres, académicos, estudantes, advogados e até líderes religiosos.

No entanto, acrescentou, “a repressão e os abusos cometidos pelo regime totalitário iraniano”, foram “brutais e desproporcionados”, levando à morte de centenas de pessoas, à detenção de milhares de outras, ao julgamento sumário de centenas de manifestantes e à aplicação da pena de morte a cerca de duas dezenas de outros.

“O Irão continua a violar todos os tratados internacionais associados aos direitos humanos, que assinou, razão pela qual os Estados Unidos têm continuado a impor sanções económicas a personalidades e entidades iranianas que continuam a transgredir estes preceitos. Já aplicámos 70 ordens de sanções, até ao ministro do Interior [iraniano, Abdolreza Rahmani Fazli]”, sublinhou Taylor.

No debate, Jane Harman, presidente do Conselho de Administração da Freedom House, questionou a autoridade e a moralidade da polícia dos costumes do Irão, denunciando a brutalidade utilizada contra manifestantes que lutam pela liberdade e pela democracia.

A líder do ‘think-tank’ relembrou as palavras proferidas por Hillary Clinton, na altura em que era “primeira-dama” dos Estados Unidos (1993/2001), que afirmou n uma conferência internacional que “os direitos das mulheres são direitos humanos e os direitos humanos são direitos das mulheres”.

Nesse sentido, garantiu que a Freedom House continuará a apoiar a luta pela emancipação da mulher e pela democracia no Irão.

No mesmo sentido, Melanne Verveer, diretora executiva do Instituto para as Mulheres, Paz e Segurança da Universidade de Georgetown, insistiu na ideia de que as mulheres iranianas apesar da “repressão brutal, nunca serão silenciadas” e que a luta “contra os alicerces do regime vai continuar”.

“A trajetória dos protestos em curso no Irão vai continuar a ser seguida, o papel das mulheres e da diáspora vai singrar e o panorama atual da aplicação de sanções e dos mecanismos multilaterais também”, concluiu.

Apesar da maior visibilidade e atenção política dos protestos globais, o movimento ainda não conseguiu ameaçar os alicerces do regime teocrático liderado pelo ayatollah Ali Khamenei. 

A repressão brutal contra os dissidentes torna-se cada vez mais terrível e o Irão continua a cultivar redes complexas de evasão às sanções financeiras e comerciais que minam os esforços para responsabilizar o regime, defende o Instituto da Universidade de Georgetown.

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