Entre os 500 assinantes encontram-se, por exemplo, os escritores Mário de Carvalho e Rui Zink, os músicos Valete e Kalú, os professores universitários Carlos Neto e André Carmo, ou as investigadoras Manuela Ribeiro Sanches e Elsa Peralta. No documento disponível online, lê-se que os dinamizadores não são militantes do PCP ou do PEV e não partilham todas as posições dos partidos, mas ressalvam a “importância e seriedade das suas propostas”.

“No âmbito da esquerda é muito importante. Sobretudo perante a possibilidade – contra a qual queremos, evidentemente, resistir e lutar — de uma maioria de direita dentro da próxima Assembleia da República, que já sabemos que nunca maioria será sem a presença dos neofascistas do Chega, o que coloca a todos os democratas e a todos os que nos revemos no 25 de Abril um desafio muito importante”, afirma à Lusa o historiador (e assinante) Manuel Loff.

O documento esteve aberto à subscrição entre janeiro e fevereiro, tendo, segundo o professor universitário e também ex-deputado do PCP, atingido de forma “surpreendente” um “conjunto amplo” de apoios. Para Manuel Loff, que foi um dos dinamizadores da iniciativa, é um “motivo de orgulho” que chegou também a imigrantes, além de pessoas da educação, da cultura e das artes, ou da indústria.

Manuel Loff recusa que o manifesto — intitulado ‘Trabalho da Esperança’, a partir de uma frase do poeta Manuel Gusmão — seja visto como uma resposta às múltiplas sondagens, contrapondo que a iniciativa foi lançada no início do ano e antes de começarem a ser conhecido por sondagens. Os mais recentes estudos de opinião têm como objetivo uma quebra da CDU face às eleições legislativas de 2022, nas quais conquistaram seis deputados.

“As sondagens em Portugal têm tradição de ter uma fiabilidade bastante baixa”, defende, traçando uma análise negativa desses estudos de opinião: “Em geral, as sondagens não têm espelhado a representatividade da CDU. Não vou fazer um discurso ‘à político’, mas é mesmo essa a atitude: as sondagens não nos importam. O que importa é a percepção que temos de um ânimo à esquerda, concretamente à volta da CDU”.

A divulgação da iniciativa ocorre na mesma semana em que foi conhecido um outro abaixo-assinado de cerca de meia centenas de sindicalistas e ex-dirigentes sindicais a apelar igualmente ao voto na Coligação Democrática Unitária (CDU, que junta PCP e PEV).

Questionado se essa circunstância traduz um recebimento real de que os comunistas podem perder a sua expressão no parlamento, Manuel Loff assegura que esse cenário está longe de se concretizar. Assinala, sobretudo, uma “demonstração de apoio” dos subscritores e garantiu que nenhum dos apelos teve como mote “ajudar a CDU a não desaparecer”.

“Não é nada essa a nossa perspetiva. Entre muita outra gente pode estar a querer-se instalar essa ideia — que é irreal — de que a CDU está em risco de desaparecimento parlamentar”, notando, finalizando: “Eu, enquanto cidadão e ativista da Iniciativa dos Comuns, sinto-me especialmente orgulhoso e até em alguns casos focados na representatividade desses nomes todos no conjunto da sociedade portuguesa”.