"Há uma acrimónia" entre Marcelo e Costa. PNS "não tem herdar atritos"

"Há uma acrimónia" entre Marcelo e Costa. PNS "não tem herdar atritos"

O deputado socialista Sérgio Sousa Pinto considerou, esta terça-feira, que há “uma acrimónia” entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, numa referência às ‘acusações’ que ambos têm trocado ao longo das últimas semanas após a dissolução da Assembleia da República, realçando ainda que os factos que levaram à atual crise política “são conhecidos do país” e que é claro de quem é a responsabilidade da realização de eleições legislativas antecipadas. 

“Aparentemente, gerou-se um debate lateral na vida pública portuguesa em torno da magna questão de saber quem é que provocou esta crise política”, começou por referir o socialista, em declarações na CNN Portugal, referindo  que “não se percebe muito bem a motivação que se esconde por detrás deste debate”, uma vez que “os factos são conhecidos do país”.

“Não vejo qual seja o interesse em tentar enviesá-los responsabilizando uma das partes por coisas que são do conhecimento geral”, apontou.

Na ótica de Sousa Pinto, após a demissão de Costa, o Presidente da República tinha de escolher entre um governo de Mário Centeno ou de marcar eleições, sendo que a primeira hipótese era quase “um governo de coligação PS/Marcelo Rebelo de Sousa”, algo que o chefe de Estado “não quis”.

“Quando António Costa diz ‘vamos ter eleições porque foi essa a decisão do Presidente’, quer dizer, o Presidente não estava confrontado com a escolha entre manter o Governo em funções ou dissolver a Assembleia e marcar eleições. O Governo em funções não se podia manter ou então tinha que se manter sem o primeiro-ministro, sem António Costa. Isto era um Governo de António Costa, feito à imagem e semelhança de António Costa. António Costa era a alma do Governo. Tirar a alma ao Governo, permitir que ele continue sem a sua alma inspiradora, um Governo que é o reflexo de António Costa, evidentemente que, para o Presidente da República, isto é um argumento que é compreensível do ponto de vista democrático”, apontou.

“O dilema do Presidente era um governo de Mário Centeno, que foi a hipótese que lhe foi apresentada, tanto quanto sei, e a marcação de eleições”, frisou.

Para o deputado do Partido Socialista (PS), Centeno é uma “figura prestigiada”, um homem de “grandes qualidades intelectuais”, mas “não estava em exercício de funções políticas”. “Não tinha sido eleito para nada”, atirou.

“Diante da hipótese que lhe foi sugerida, o Presidente da República considerou que o governo que saísse dali, seria um governo de um tecnocrata (…) com respaldo político do Presidente da República. E ele ficaria associado ao destino daquele governo. Um governo de António Costa, sem António Costa”, disse. “Era quase um governo de coligação PS/Marcelo Rebelo de Sousa e o Presidente não quis isso”, atirou.

Assim, Sousa Pinto, aponta: “Acho que há aqui uma acrimónia entre o Presidente e o primeiro-ministro. Uma coisa que não está sanada e que, provavelmente, não se vai sanar”.

“Acho que ainda estamos a assistir a foguetes de uma festa que já passou. A festa foi boa, chegou ao fim, mas ainda se ouvem deflagrações”, afirmou.

O socialista entende que o novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, “não tem de herdar estes atritos entre Belém e António Costa e entre Belém e a direção do PS”. “É prejudicial para ele também”, notou.

Recorde-se que, já depois de terem trocado acusações, a controvérsia adensou-se após a mensagem de Ano Novo de Marcelo. Esta terça-feira, Costa foi questionado sobre a mesma e recusou comentar.

“Quanto ao discurso do senhor Presidente da República, digo que a minha função não é ser comentador. Em oito anos nunca fiz comentários aos discursos do Presidente da República e não é agora seguramente que vou começar”, respondeu.

Já sobre as eleições legislativas de 10 de março, António Costa fez uma distinção entre as suas funções atuais de primeiro-ministro e o seu papel enquanto ex-secretário-geral do PS, mas também não deixou de fazer uma referência direta à decisão de Marcelo Rebelo de Sousa dissolver o parlamento.

“A democracia fortalece-se sempre quando os cidadãos participam. É muito importante que, havendo um ato eleitoral, que foi decidido e convocado pelo Presidente da República, todos participem. É fundamental que não se deixe para os outros a escolha que a cada um de nos cabe fazer. Como primeiro-ministro não me cabe dizer mais, mas em outras circunstâncias, em outras funções, poderei dizer algo mais sobre o que fazer com o voto”, notou.

Antes, tinha deixado um novo recado: “Não podemos estragar aquilo que de bom temos e é necessário continuar sem estragar”, acentuou.

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