Só em Lisboa é mais barato arrendar casa do que comprar, diz a Century 21

Esta conclusão resulta da análise comparada entre os valores de arrendamento e de aquisição para uma casa de 90 metros quadrados, com o estudo a evidenciar que, nas capitais de distrito, o valor de um apartamento deste tamanho varia entre os 375.480 euros em Lisboa e os 59.040 euros na Guarda, com a média nacional a situar-se nos 152.159 euros.

Tendo em conta os indicadores do valor do mercado dos imóveis e as taxas de juro, as prestações do crédito para a compra de uma casa de 90 metros quadrados oscilam entre os 208 euros na Guarda e os 1.322 euros em Lisboa, seguida do Porto, com 881 euros. Tirando estas duas cidades, nas restantes o valor é inferior a 600 euros, sendo que na maioria das capitais de distrito é inferior a 400 euros mensais.

Do lado das rendas, “apenas em Lisboa, comprar 90 m2 envolve um encargo mensal maior (14%) do que arrendar uma casa com a mesma área”, refere o estudo da Century 21, apontando que no Porto a vantagem da compra é também “bastante reduzida (-6%)”.

“Em todas as outras cidades comprar envolve uma mensalidade inferior à renda, e na maioria delas essa diferença atinge -20%”, conclui a mesma análise. Já Portalegre e Bragança são as cidades onde a aquisição “apresenta vantagem mais robusta sobre o arrendamento, envolvendo uma prestação cerca de 50% abaixo da renda”, lê-se no estudo.

Traduzindo em euros, em média, arrendar esta tipologia de casa custa 1.167 euros em Lisboa (1.017 na respetiva Área Metropolitana), o triplo do que custa o arrendamento em Beja.

Ainda assim, “embora a compra continue a ser a opção mais vantajosa – com exceção de Lisboa — há uma evidente perda de competitividade desta opção face ao arrendamento em todas as cidades”, refere o documento.

Em 2019, a mensalidade da compra ficava 40% a 60% abaixo de uma renda em todas as cidades (excluindo Lisboa, Porto e Faro), mas em 2022 essa diferença reduziu-se na maioria das cidades, com a compra a situar-se agora entre 20% a 30% abaixo da renda.

Usando os dados relativos ao rendimento das famílias (que são baseados nas declarações de rendimento fiscal publicados pelo INE) e a informação sobre preços e rendas de mercado da Confidencial Imobiliário, o estuado revela ainda que entre 2019 e 2022 o rendimento disponível das famílias registou um aumento médio de 9%, enquanto os preços das casas em Portugal avançaram 38%.

Uma discrepância que resultou numa “deterioração no acesso à habitação” naquele período.

Segundo o estudo, o rendimento líquido das famílias varia, nas várias capitais de distrito, entre os 1.973 euros em Lisboa e os 1.426 euros em Viana do Castelo, com a média das capitais de distrito a situar-se nos 1.545 euros.

Desta forma, é referido, a compra de uma casa em Lisboa (para a tipologia assumida) exige “uma taxa de esforço de 67%”, enquanto no Porto a taxa de esforço é de 50% e em Faro de 39%.

“Com a exceção das capitais e concelhos da AML [Área Metropolitana de Lisboa], AMP [Área Metropolitana do Porto] e Algarve, nas restantes capitais de distrito este indicador é de 30% ou inferior, com grande parte das cidades a situar o esforço para aquisição no patamar dos 20%, com os 13% da Guarda a fixar a menor taxa de esforço do país”, lê-se no estudo, segundo o qual a taxa de esforço em 15 das 18 capitais de distrito é inferior à recomendada (33%).

Ressalve-se contudo que estas taxas de esforço registadas em 2022 evidenciam um agravamento face a 2019, altura em que “eram 15 as capitais de distrito onde comprar uma casa de 90 m2 consumia 20% ou menos do orçamento”, sendo que “atualmente só seis estão nesse patamar”.

Numa altura em que o Banco Central Europeu (BCE) prossegue com a movimentação de subida das suas taxas diretoras, o estudo analisa o impacto na prestação mensal do aumento das taxas de juro para 5%.

Neste cenário, conclui-se que a prestação registará um aumento de mais de 150 euros mensais na maioria das cidades, superando os 200 euros mensais em algumas. Ainda assim, “em 15 das 18 capitais de distrito, a taxa de esforço é inferior a 40%, mesmo com projeções de 5% de subida das taxas de juro”.

Por outro lado, o estudo revela que apenas em Lisboa, Porto e Faro e respetivas áreas metropolitanas as famílias teriam de comprar um apartamento com menos área para não ficarem com uma taxa de esforço superior a 33%, sendo que em algumas cidades (como Viseu, Santarém ou Leiria, entre outras) alocar um terço do rendimento ao crédito à habitação permite até comprar casas com mais de 90 metros quadrados.

Citado no estudo o presidente executivo (CEO) Century 21, Ricardo Sousa, fala sobre as origens do desequilíbrio no acesso à habitação em Portugal, precisando que “na região metropolitana de Lisboa, 43% das habitações em venda têm níveis médios de preço superiores a 330.000 euros, quando apenas 14% das famílias conseguirá responder a esse nível aquisitivo”.

Na AML e na AMP, aponta Ricardo Sousa, 55% e 61%, respetivamente, das famílias inserem-se na classe média, ao passo que apenas 33% e 41% (pela mesma ordem) da oferta se adequa ao nível de rendimento dessa classe.

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