O primeiro de dois espetáculos nos Açores realiza-se este sábado, no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, na Terceira, o segundo, no próximo dia 12, no espaço Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, S. Miguel, conforme o programa da digressão disponível na página da Internet da Cassandra, estrutura da atriz, encenadora e criadora. O primeiro já se encontra esgotado, indica a casa de espetáculos.
Sara Barros Leitão também apresentará a peça no Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos, Porto, no Dia Internacional da Mulher, 08 de março, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré, no concelho de Ílhavo, em 11 de março, e no Centro de Artes de Ovar, a 18 de março, ambos no distrito de Aveiro.
Entre as salas já anunciadas estão também o Theatro Circo de Braga, em 10 de maio, e o Teatro Miguel Franco, em Leiria, a 28 de novembro.
‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’, título que a criadora “roubou” de um texto das ‘Novas cartas portuguesas’, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, culminou um longo processo de investigação em arquivos, a partir de histórias de mulheres sobre o trabalho doméstico e a criação do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal, após o 25 de Abril de 1974, disse Sara Barros Leitão à Lusa, quando da estreia, em novembro de 2021, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
“Devolver um pouco da história do trabalho doméstico, ainda muito pouco reconhecido e valorizado”, são objetivos da criadora.
Sem se apropriar da voz de nenhuma Maria, “como são chamadas grande parte das trabalhadoras domésticas de modo a torná-las um sujeito comum e coletivo e não individual”, nem de qualquer patroa, Sara Barros Leitão concebeu, escreveu e interpreta um monólogo, em que fala de mulheres que limpam e cuidam do mundo, mulheres que produzem, educam e preparam a força de trabalho sem jamais obterem visibilidade ou relevo.
A ideia de criar um espetáculo a partir do trabalho e do serviço doméstico, “uma questão associada às mulheres”, sobretudo nas sociedades ocidentais, “há muito” que acompanhava a artista, porque, enquanto mulher, é algo que ocupa “grande parte” do seu dia, do seu tempo e da sua carga mental.
À semelhança de anteriores monólogos que escreveu, encenou e interpretou — ‘Teoria das três idades’ e ‘Todos os dias me sujo de coisas eternas’ – o espetáculo estreado na Black Box do CCB encerra uma espécie de trilogia deste ‘one woman show” decorrente de um longo processo de investigação em arquivos e de histórias.
Para a construção de ‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’, processo em que andou “obcecada e embrenhada”, a atriz consultou os arquivos do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico, em Portugal.
Esta estrutura foi criada em 10 de novembro de 1974, culminando um processo lançado em maio desse ano, logo após o 25 de Abril, para que as trabalhadoras do setor não ficassem “ao abandono”, sujeitas apenas ao “arbítrio dos patrões”, como as suas dirigentes afirmaram na altura.
‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’ foi o primeiro trabalho da estrutura fundada e dirigida por Sara Barros Leitão, em 2020.
Tem cenografia e figurino de Nuno Carinhas, desenho de luz de Cárin Geada e desenho de som de José Prata.
Nascida no Porto, em 1990, Sara Barros Leitão venceu, em 2020, a primeira edição do Prémio Revelação Ageas/Teatro Nacional D. Maria II, no montante de 5.000 euros.
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