“Disseram de uma hora para outra, foi rápido, cinco minutos”, explicou, para logo acrescentar: “Aquilo está reles, mas acho que não havia necessidade de tirar as pessoas assim, à pressa. Já esteve pior e nunca saímos dali”,
Maria da Conceição Gomes é uma das 37 pessoas que estão alojadas temporariamente no Regimento de Guarnição n.º 3 (RG3), no Funchal, devido ao mau tempo que afetou o arquipélago da Madeira entre segunda e terça-feira, por causa da depressão Óscar, que colocou a costa sul e as regiões montanhosas em alerta vermelho durante 24 horas.
Nesse período, foi registado o valor máximo histórico de precipitação a nível nacional — 497,5 milímetros –, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), situação que provocou deslizamentos de terras e inundações e colocou em risco várias habitações, resultando num total de 95 desalojados, cuja maioria se encontra em casa de familiares.
As primeiras 18 pessoas, residentes na freguesia de Santo António, foram instaladas no RG3 na terça-feira, e depois, na quarta-feira, chegaram outras 19, vindas do bloco II do Complexo Habitacional do Canto do Muro III, na freguesia de São Gonçalo, uma infraestrutura de habitação social gerida para Câmara Municipal do Funchal.
A autarquia detetou “problemas na estabilidade estrutural” do edifício, agravados pela tempestade, e procedeu à retirada imediata das 14 famílias, no total de 41 pessoas.
“Aqui estamos bem, temos tudo, só que estranhei dormir naquela cama”, disse Maria da Conceição Gomes, no momento em que se preparava para sair do RG3, a caminho de um ensaio para as marchas de Santo António.
A idosa veio com a filha e a neta de 06 anos e agora anda preocupada com os peixes do aquário e também com as flores.
“Eu queria ir a casa para ver pelo menos as flores, para ser se estão bem ou não estão”, afirmou, para logo reforçar que também gostava de voltar para a residência onde mora há mais de 20 anos.
Opinião diferente tem Maria José Pestana, 68 anos, também residente no bloco II do Canto do Muro há duas décadas.
“Não quero voltar para acolá. Não vou. Eu nem quero imaginar que volto para acolá”, disse, ao sair da camarata onde está alojada juntamente com o marido, Nóe Pestana, de 69 anos, e com a neta de 10 anos.
O marido, porém, não é tão assertivo e prefere “esperar para ver”.
“Quando isto acabar, então podemos conversar como deve ser. Temos de ver a balança para que lado vai virar”, dizia, afirmando estar cansado de promessas e reforçando: “Eu sou como São Tomé: ver para acreditar”.
Seja como for, Noé Pestana afirma que a retirada dos moradores daquele prédio já deveria ter ocorrido “há muito tempo”, porque “as paredes estão todas partidas e os tetos estão todos a cair”.
“Lá isto não é mentira nenhuma”, afiançou.
Em relação à estada no RG3, o casal é unânime em considerar que “tudo está bem, como manda a lei”.
Já o comandante da Zona Militar da Madeira, brigadeiro-general Luís Monsanto, destaca, por seu lado, que “não houve qualquer problema por parte das pessoas” em aceitar as regras do Regimento de Guarnição n.º 3, vincando que os núcleos familiares, compostos por dois a cinco elementos, estão instalados na mesma camarata, e as rotinas decorrem de forma normal.
“Neste momento, no total são 37 pessoas, 26 adultos e 11 crianças”, precisou, indicando as idades variam entre os 11 meses e os 76 anos.
De acordo com Luís Monsanto, a previsão das autoridades aponta para uma estada até três semanas.
“Temos capacidades complementares à Proteção Civil, umas das quais é a projeção de alojamento, através de tendas, ou a receção em instalações físicas no regimento de população que necessite de ser realojada temporariamente por situação de emergência”, esclareceu.
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