Em entrevista à Lusa, José Pinto-Coelho repudia a ideia do voto útil, por considerar que está a “prolongar um estado de agonia” do país, sublinhando que para “mudar mesmo” Portugal será necessário “coragem, sacrifício e tempo”. Para a mudança que preconiza, o candidato nacionalista defende não ser possível acordos com a AD, o PS ou mesmo o Chega, ao notar que os seus elementos vêm dos partidos que passaram pelo poder.
“Estamos a concorrer a eleições e o objetivo é entrar na Assembleia da República. Tudo o resto não me interessa. Ter cinco mil votos [em 2022], 17 mil [em 2019] ou 27 mil, como tivemos em 2015, em termos anímicos, é diferente, não vou escamotear a verdade, mas, em termos práticos, é rigorosamente igual”, afirma, indiferente também ao aparecimento de outras formações políticas à direita, como a Alternativa 21 ou a Nova Direita.
Criticando a “pouca exigência das pessoas” para o crescimento do partido de extrema-direita liderado por André Ventura, o presidente do Ergue-te (antigo Partido Nacional Renovador — PNR) destaca que o Chega é “altamente incoerente” e que segue “chavões que agradam às pessoas, mas não vai até ao fim”, apontando como exemplo a imigração.
José Pinto-Coelho advoga que os cidadãos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) não partilham da matriz cultural portuguesa e rejeita também a vinda de pessoas da região do Indostão ou de origem islâmica. Questionado sobre a xenofobia dessa posição, o líder do Ergue-te desvaloriza a situação e reitera a intenção de reverter os fluxos migratórios.
“Não quero saber se é xenófoba, não tenho medo nenhum de rótulos, porque isso é uma maneira desonesta de certos setores da sociedade – esquerdistas politicamente corretos – tentarem amordaçar e calar quem pensa de modo diferente. Então utilizam isto: discurso de ódio, xenofobia, homofobia… Estou-me ‘nas tintas’, chamem-me o que quiserem. Eu defendo aquilo que defendo: não quero imigração que não partilhe da nossa matriz cultural”, refere.
Já sobre um hipotético enquadramento no crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, José Pinto-Coelho atira que o crime é dos “criminosos que fazem essas leis” e assume a sua crença numa “teoria da substituição” dos portugueses: “Qualquer dia vamos ser minoria na nossa terra. Eu estou a marimbar-me para as leis destes criminosos de Abril. O maior crime que estão a cometer é o crime de desaparecimento de Portugal”.
A saída a prazo da União Europeia é outro objetivo do candidato nacionalista, que defende para Portugal o que o Reino Unido logrou com o ‘Brexit’, mas reconhecendo que “para isso é preciso ter indústria, voltar a ter pescas e ter muito mais autonomia alimentar e energética”.
Para José Pinto-Coelho, as questões de identidade, soberania e família são prioritárias face a áreas sociais, como a saúde, a educação ou a habitação, reclamando, entre outras medidas, a revogação das leis do aborto, da eutanásia ou do casamento homossexual, num regresso ao passado em que essas questões não eram legais.
“Como era antigamente. O que está aqui em confronto são duas mundivisões completamente diferentes. Uma coisa é uma pessoa discutir com outra se o aeroporto deve ser em Alcochete ou em Beja, ou seja, são coisas práticas e em que pode haver consensos. Quando estamos a falar de valores, não pode haver consensos, não se pode chegar a meio termo. Ou se impõem os nossos valores ou se vive sujeito aos valores dos outros”, reitera.
Instado a eleger uma prioridade entre as áreas sociais, o líder do Ergue-te indica a habitação. Como resposta, advoga a proibição da venda de casas a estrangeiros não residentes, o fim dos licenciamentos no alojamento local, mais construção a preços de venda acessíveis, a intervenção na lei do arrendamento, e a redução dos juros do crédito à habitação pela Caixa Geral de Depósitos, recusando “a lei do mercado selvagem”.
Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar em 10 de março para eleger 230 deputados à Assembleia da República.
A estas eleições concorrem 18 forças políticas, 15 partidos e três coligações.
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