O antigo secretário-geral do Partido Social Democrata (PSD) Miguel Relvas defendeu, na quarta-feira, que o antigo ministro das Infraestruturas e atual líder do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, deve esclarecimentos sobre o que aconteceu relativamente à ex-presidente executiva da TAP Christine Ourmières-Widener, devido às posições assumidas pela companhia aérea na contestação à ação judicial interposta pela antiga CEO.
Em declarações na CNN Portugal, o também antigo deputado justificou esta posição, notando que foi Pedro Nuno Santos quem contratou Christine Ourmières-Widener. “Naturalmente que sim [Pedro Nuno Santos deve explicações], foi ele que a contratou”, afirmou.
“A grande questão aqui é que o Estado, independentemente de ter de defender os seus princípios e de defender os seus direitos, o Estado tem de ser uma pessoa de bem”, assinalou, acrescentando que os argumentos agora apresentados pelos advogados “já não são os mesmos que levaram à demissão”.
“A senhora é demitida porquê? Porque pagou 500 mil euros a Alexandra Reis (…) E, hoje, a argumentação dos advogados parece que vai no sentido de tentar encontrar depois um entendimento – os advogados têm muito esse hábito – já não são os argumentos que levaram à demissão da senhora em causa”, frisou Miguel Relvas.
Na ótica do antigo ministro de Pedro Passos Coelho, a TAP “é um esplendor de Pedro Nuno Santos”, que acusa de “trapalhadas” por onde “passou”.
“A verdade é que a senhora foi uma boa gestora, apresentou resultados, mas a TAP é mais uma vez um esplendor de Pedro Nuno Santos, tem a sua impressão digital. Tem aí, como tem na Habitação, como tem nas nacionalizações da TAP, como tem na ferrovia, como tem no aeroporto. Ou seja, o esplendor de Pedro Nuno Santos vem vindo ao de cima. Por onde ele passou na gestão há trapalhadas, há problemas, há situações que não são claras”, apontou.
Miguel Relvas entende ainda que o antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação não se pronunciou sobre o caso uma vez que “não tem outra solução”. “Ele contratou a senhora no âmbito de um concurso internacional, sabe as condições em que o fez”, disse.
“A questão que se coloca aqui foi a falta de sentido de Estado e de responsabilidade num processo como este”, defendeu. “A senhora foi demitida com uma série de argumentos, que agora são postos em causa pela própria posição do Estado”, argumentou.
Segundo o antigo secretário-geral do PSD, “não é um bom indicador”-
“Estamos a falar de uma pessoa que tem relevo internacional. Saiu da TAP, encontrou imediatamente emprego em França. Não conheço a senhora de lado nenhum, mas tudo isto cheira a algo de esquisito, há aqui uma sensação de tentar corrigir erros”, rematou.
De recordar que Christine Ourmières-Widener reclama 5,9 milhões à TAP. O Governo anunciou, a 6 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores.
Christine Ourmières-Widener foi exonerada por justa causa, em abril de 2023, no seguimento da polémica indemnização de meio milhão de euros à antiga administradora Alexandra Reis, que levou à demissão do então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do seu secretário de Estado Hugo Mendes, e à constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão da companhia aérea.
Esta semana, ficaram a conhecer-se as posições assumidas pela companhia na contestação à ação judicial interposta pela ex-CEO. A defesa da TAP acusa Christine Ourmières-Widener ter escondido outro cargo, de conflito de interesses com empresa ligada ao marido e considera que esta violou “grosseiramente” deveres por ocultar acordo de saída de Alexandra Reis.
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