“O descontentamento não é apenas com este governo em específico. É um descrédito geral porque, depois de 24 anos do PS e de três do governo desta coligação [PSD, CDS-PP e PPM], continua tudo na mesma”, desabafou a candidata comunista, durante um almoço-convívio realizado no Faial, com a presença do líder nacional do PCP, Paulo Raimundo, no primeiro dia de campanha para as eleições regionais antecipadas de 04 de fevereiro.
Paula Decq Mota, filha do antigo dirigente histórico do PCP e ex-deputado regional José Decq Mota, alertou, no entanto, para a necessidade de simpatizantes e apoiantes da CDU ajudarem a combater este descontentamento, para evitar a abstenção ou o crescimento de outros partidos.
“A gente não pode deixar que esse descrédito leve as pessoas a ficarem em casa ou até a utilizarem o seu voto como protesto em forças que em nada pretendem melhorar as suas vidas”, advertiu a dirigente comunista, sem se referir, no entanto, a nenhum partido em concreto.
A candidata da CDU diz que os açorianos com quem tem falado reconhecem que a Coligação Democrática Unitária (CDU) “fez falta” na Assembleia Legislativa dos Açores desde que deixou de ter representação parlamentar, em 2020.
“As pessoas reconhecem-nos e sentem a falta da nossa voz, da CDU, porque, de facto, nos últimos três anos não estivemos representados, mas também não houve ninguém lá, dos 57 deputados, que nos substituísse, sequer, nem de perto, nem de longe”, lamentou.
Paula Decq Mota lembrou que foi a CDU e o movimento sindical nos Açores que permitiram criar várias medidas de apoio direto aos trabalhadores, às famílias e aos pensionistas na região, na altura em que os comunistas tiveram assento no parlamento regional, mas sobre as quais pouco ou nada se fala atualmente.
“Sem a luta do movimento sindical e dos trabalhadores, e a voz da CDU a nível institucional, nunca tinham sido postas em prática medidas que hoje em dia já ninguém as questiona, como é o acréscimo regional ao salário mínimo, a remuneração complementar e o complemento de pensão”, recordou a candidata.
No seu entender, o acesso à habitação é, atualmente, um dos maiores problemas com que se debatem, sobretudo, os jovens açorianos, mas também a maioria dos profissionais que são deslocados em serviço para a região e que optam por abandonar o arquipélago devido ao custo elevado das moradias.
“Desde os jovens que não ficam cá, porque não têm onde viver, aos profissionais das mais diversas áreas que vêm para cá trabalhar, nos setores da Saúde, Educação, forças policiais e justiça, esses profissionais não ficam cá”, porque “não conseguem suportar as rendas”.
Paula Decq Mota entende que a dificuldade no acesso à habitação está a condicionar o desenvolvimento de vários serviços públicos essenciais, que aos poucos “vão fechando” por falta de profissionais e passam a ser efetuados por privados.
O Presidente da República decidiu dissolver o parlamento açoriano e marcar eleições antecipadas após o chumbo do Orçamento para este ano. Onze candidaturas concorrem às legislativas regionais, com 57 lugares em disputa no hemiciclo: PSD/CDS-PP/PPM (coligação que governa a região atualmente), ADN, CDU (PCP/PEV), PAN, Alternativa 21 (MPT/Aliança), IL, Chega, BE, PS, JPP e Livre.
Em 2020, o PS venceu, mas perdeu a maioria absoluta, surgindo a coligação pós-eleitoral de direita, suportada por uma maioria de 29 deputados após assinar acordos de incidência parlamentar com o Chega e a IL (que o rompeu em 2023). PS, BE e PAN tiveram, no total, 28 mandatos.
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