Um dia depois de três homens vandalizarem uma exposição sobre a comunidade LGBT+ em Évora, realizou-se, na mesma cidade, aquela que foi a 1.ª Marcha do Orgulho.
A exposição em causa propunha refletir sobre o ódio em torno da comunidade LGBT+ e estava integrada na 1.ª Évora Pride, que está a decorrer até domingo, com um conjunto de concertos, performances, conversas e ações de sensibilização quanto ao tema. A ação é organizada em parceria pela Sociedade Harmonia Eborense, Núcleo Feminista de Évora e Associação Évora Queer.
Apesar de esta estreia ter ficado marcada com atos de vandalismo, Évora saiu à rua e passou por vários pontos da cidade, como a Praça do Giraldo ou o Jardim Público, em luta pelos direitos LGBT+.
As imagens desta primeira marcha podem ser vistas na galeria acima.
Que atos de vandalismo ocorreram?
Uma exposição que propunha uma reflexão sobre o ódio em torno da comunidade LGBT+ foi vandalizada por três homens, que se colocaram em fuga, revelaram fontes da organização, da câmara e da polícia.
O Comando Distrital de Évora da PSP indicou ter recebido o alerta para um ato de vandalismo contra esta exposição e mobilizado meios policiais para o local. Segundo estas autoridades, quando os agentes chegaram, três homens já se tinham colocado em fuga, tendo apurado que foram provocados danos em várias peças de arte e roubadas outras duas.
Durante o ato, adiantaram, foi restringida a liberdade de um funcionário da autarquia que se encontrava no local, algo que também Rolando Galhardas, da Comissão Organizadora da Évora Pride, já tinha denunciado. “Fizeram ainda refém o funcionário da câmara que se encontrava no local. Foi agredido verbalmente, coagido e ameaçado”, explicou.
O mesmo responsável disse que a exposição se intitulava ‘Missiva de amor e ódio’ e reunia trabalhos de pintura, fotografia, escultura e gravura da autoria de vários artistas.
“Ficou praticamente tudo destruído. Sobreviveram poucas peças. Foi uma tentativa declarada de nos assustar e causar medo através do ódio”, lamentou.
Os factos aconteceram na Igreja de São Vicente, propriedade da Câmara de Évora e sem culto há vários anos.
O que diz a Câmara de Évora
O vice-presidente da Câmara de Évora, Alexandre Varela, condenou o que considerou a “tentativa de sobreposição, dominação e intolerância” em relação à comunidade LGBT+ (lésbicas, ‘gays’, bissexuais, transgénero e outros).
“Foi um ato absolutamente condenável relacionado com intolerância, neste caso, aparentemente, de natureza sexual, que é, obviamente, abominável. Num Estado de Direito, não podemos tolerar situações destas”, afirmou.
O autarca realçou que o caso “foi entregue às autoridades policiais e judiciárias”, salientando que, apesar de a PSP já ter estado no local, “é provável” que a Polícia Judiciária assuma a investigação, “tendo em conta a natureza dos ilícitos criminais”.
A reação do Bloco de Esquerda
Ainda na quinta-feira, os bloquistas questionaram o Governo se teve conhecimento do ato de vandalismo numa exposição integrada na primeira edição do Évora Pride, e que medidas tomará para garantir a segurança da marcha que se realizou hoje.
No requerimento, o Bloco de Esquerda salientou que que “a organização de momentos comunitários e de manifestação política faz parte da história de resistência da população Lésbica, Gay, Bissexual, Trans, Queer e de todas as demais pessoas com sexualidades e identidades de género divergentes da norma hetero-patriarcal”.
Já no Twitter, a deputada Joana Mortágua publicou um vídeo no qual demonstrou solidariedade para com a situação. “Não nos intimidam. Toda a solidariedade com as organizadoras e os participantes do Orgulho LGBTQ + alentejano”, escreveu a bloquista na publicação.
O orgulho não se rende. A exposição “Amor e Ódio” que precede a 1ª Marcha do Orgulho de Évora foi brutalmente vandalizada. Não nos intimidam. Toda a solidariedade com as organizadoras e os participantes do Orgulho LGBTQ + alentejano. #pride ️ pic.twitter.com/xsnfHf0xTs
— Joana Mortágua ️️️ (@JoanaMortagua) June 15, 2023
E a Igreja… o que tem a dizer?
A Arquidiocese de Évora considerou, já esta sexta-feira, “pouco sensata e reveladora de pouco respeito” a realização de uma exposição da comunidade LGBT+ numa igreja da cidade, mas repudiou atos de intolerância e demarcou-se do vandalismo.
Para esta instituição católica, existem espaços que têm “uma história, uma identidade e uma ligação à cultura e às emoções das pessoas que os usam”. No comunicado, a arquidiocese “repudia liminarmente qualquer atitude de intolerância, vandalismo e violência e demarca-se, sem reservas, destes atos”, realçando estar “comprometida com a paz social e a convivência respeitosa entre todos”.
“Numa sociedade plural e democrática, entendemos ser dever de cada cidadão e, mais ainda, dos agentes institucionais promover a convivência pacífica entre todos e a livre expressão de ideias e sensibilidades”, sublinhou.
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