O antigo ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP na quinta-feira, numa audição amplamente aguardada, que durou mais de oito horas, e onde foram abordados vários temas polémicos. Um deles foi a indemnização paga a Alexandra Reis, que levou à criação desta CPI e à sua saída do Governo.
Mas há mais. Pedro Nuno Santos falou sobre a sua relação com o primeiro-ministro, António Costa, que classifica de “boa”, sobre o telefonema que fez a Frederico Pinheiro na noite dos acontecimentos polémicos no Ministério das Infraestruturas e, ainda, sobre a sua saída do Governo, que classificou de “difícil”.
O Notícias ao Minuto reuniu, em oito pontos, o essencial da audição de Pedro Nuno Santos. Fique a par:
1. Pinheiro ligou-lhe quando foi demitido e PNS devolveu a chamada para saber o que aconteceu no Ministério
Uma das revelações feitas por Pedro Nuno Santos é que falou com o ex-adjunto Frederico Pinheiro na noite dos desacatos no Ministério das Infraestruturas.
“Frederico Pinheiro tinha-me ligado quando foi demitido, para me dizer que foi demitido”, disse Pedro Nuno Santos, explicando que mais tarde lhe devolveu a chamada para perguntar o que tinha acontecido: “Já tarde, falei com ele e liguei-lhe a perguntar o que tinha acontecido”.
Mais tarde, voltou a dar mais detalhes sobre o tema: “Frederico Pinheiro não me pediu ajuda, apenas quis perceber o que tinha acontecido e não falei com mais ninguém do gabinete“. O antigo governante adiantou ainda que a conversa aconteceu já depois de o computador ser entregue ao Serviço de Informações de Segurança (SIS).
O caso, que remonta a 26 de abril, envolveu denúncias contra o ex-adjunto Frederico Pinheiro por violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, já depois de ter sido exonerado por “comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades” inerentes ao exercício das funções, e a polémica aumentou quando foi noticiada a intervenção do SIS na recuperação desse computador.
2. Indemnização a Alexandra Reis? “Processo que objetivamente correu mal”
O ex-ministro Pedro Nuno Santos assumiu que a indemnização a Alexandra Reis foi um processo “que objetivamente correu mal”, apesar de ter representado menos de 1% do trabalho que o Ministério teve na TAP.
O ex-ministro admitiu que o valor da indemnização paga a Alexandra Reis “é alto em qualquer país do mundo” e em “Portugal ainda mais”.
3. “Era para nós claro que não nos podíamos arrastar no Governo”
Pedro Nuno Santos explicou que a sua demissão “não foi pedida por ninguém”, mas que era claro para a sua equipa que não se podia “arrastar no Governo” quando rebentou a polémica da indemnização de Alexandra Reis.
“Estávamos na época natalícia, aquilo ganhou uma centralidade enorme e era para nós claro e para a minha equipa que não nos podíamos arrastar no Governo, por nos próprios e pelo Governo”, referiu, assumindo que foi uma decisão “muito difícil para quem faz politica há muitos anos e para quem estava no Governo há muitos anos”.
4. PNS rejeita “interferência” política na gestão da TAP
O ex-ministro rejeitou que tenha havido interferência política na TAP, considerando que as audições na comissão de inquérito o comprovam, reiterando que os governantes “não se comportam como gestores”.
“Ao longo destas dezenas de audições, o que se consegue comprovar […] é que não há interferência na gestão corrente da TAP“, afirmou o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, que está a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea.
5. “Lamento muito” o que aconteceu a Alexandra Reis
Pedro Nuno Santos disse lamentar o que aconteceu a Alexandra Reis, considerando-a “altamente competente, inteligente e trabalhadora” e esperando que se refaça rapidamente da polémica da indemnização, pois será útil a quem quiser trabalhar com ela.
“A engenheira Alexandra Reis era um quadro da TAP competentíssimo, altamente competente, inteligente, trabalhadora, lamento muito isto que lhe aconteceu e espero que consiga refazer-se rapidamente, porque será útil a quem quiser trabalhar com ela”, afirmou o ex-ministro que se demitiu na sequência da polémica indemnização.
O ex-ministro negou ainda qualquer ligação entre a saída da TAP da antiga administradora Alexandra Reis e a sua ida para a NAV, afirmando que “ainda bem” que aceitou este último convite.
6. PNS desconhecia fundos Airbus nas negociações com Neeleman em 2020
O ex-ministro garantiu que desconhecia os chamados fundos Airbus quando foi feita a negociação com David Neeleman, em 2020, em que o Estado pagou 55 milhões de euros ao ex-acionista para sair da companhia.
“Assumi funções em 2019, esse processo foi uma questão que não foi colocada. […] Quando é feita a negociação [com David Neeleman] não existe essa clarividência”, respondeu Pedro Nuno Santos ao deputado do PCP Bruno Dias, na comissão de inquérito à TAP.
7. “Sucesso da TAP deve ser canalizado para os trabalhadores”
O antigo governante defendeu que os resultados positivos apresentados pela TAP devem refletir-se numa reversão mais rápida dos cortes salariais aos trabalhadores, que foram alvo de “sacrifícios muito intensos” com o plano de reestruturação.
“Acho que, obviamente, parte do sucesso da TAP deve ser canalizado para quem, na realidade, foi alvo de sacrifícios muito intensos nos últimos anos, que foram os trabalhadores. Estes resultados que apresento politicamente são resultado do trabalho da administração e dos trabalhadores da TAP, e com muito sacrifício pessoal e familiar”, respondeu Pedro Nuno Santos ao deputado do PCP Bruno Dias.
8. “Nunca senti falta de solidariedade do primeiro-ministro”
O ex-ministro Pedro Nuno Santos assegurou que nunca sentiu falta de solidariedade do primeiro-ministro, António Costa, e que o pedido de demissão foi decisão sua.
“Eu tinha e tenho uma boa relação com o primeiro-ministro. Vou sempre vendo muitas leituras (…) Nunca senti falta de solidariedade do primeiro-ministro”, assegurou Pedro Nuno Santos.
O antigo governante reiterou que a decisão de se demitir na sequência da polémica indemnização de 500.00 euros paga à ex-administradora da TAP Alexandra Reis foi sua: “Quando decidi demitir-me, demiti-me”.
Reveja aqui a audição:
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