O antigo secretário-geral do Partido Social Democrata (PSD) Miguel Relvas considerou, na quarta-feira, que Pedro Passos Coelho “não perdeu o direito de dizer aquilo que pensa” e pronunciou-se com “a naturalidade de quem foi primeiro-ministro”, numa referência às reações que se seguiram depois de o antigo governante falar, publicamente, sobre a atual situação política.
“O que Passos Coelho fez ontem [terça-feira] fez com a naturalidade, em primeiro lugar, de quem foi primeiro-ministro, um mandato numa situação particularmente difícil do país”, começou por dizer, em declarações na CNN Portugal.
“De uma forma clara, ganha as eleições depois de quatro anos e meio terríveis, que foi tirar Portugal da falência. Ganhou as eleições, sem ter maioria absoluta e o Partido Socialista foi governar. Saiu da vida política, remeteu-se ao seu silêncio, agora, não perdeu o direito de dizer aquilo que pensa”, sublinhou.
Na ótica de Miguel Relvas, antigo ministro de Pedro Passos Coelho, vivemos, atualmente, “um momento de ausência de autoridade e moral política”.
“Hoje, vivemos um momento em que há uma ausência de autoridade e moral política. Sentimos isso nos ´órgãos de soberania, sentimos isso na Presidência da República, sentimos isso no Governo”, apontou.
Para o antigo secretário-geral do PSD, quando Passos Coelho referiu que António Costa se demitiu por “indecente e má figura”, referia-se “a um Governo, que é um caso raro na Europa, um Governo que tem maioria absoluta, e que, ao fim de um ano, cai”.
“Porquê? Porque houve escândalos no Governo ao longo desse mesmo ano. Depois descobre-se no gabinete do primeiro-ministro notas escondidas em livros e escondidas em caixotes, 79 mil euros, segundo aquilo que é publico. E isto é ou não é uma situação inaceitável?”, interrogou, mencionado ainda as crises vividas na Saúde e Educação.
“Um Governo, um Estado que não é capaz de se reformar, é um Estado que tem dificuldades em se manter. E foi isso que existiu ao longo destes últimos oito anos. O Partido Socialista, até porque a oposição se eclipsou e se tornou invisível ao longo dos últimos oito anos, foi-se mantendo no poder”, considerou.
Segundo Miguel Relvas, Passos Coelho “tem uma vantagem” comparativamente a outros políticos. “O doutor Passos Coelho tem uma vantagem que os outros políticos não têm: quando fala é ouvido”, completou.
Recorde-se que, à chegada ao Campus da Justiça, em Lisboa, na terça-feira, o antigo primeiro-ministro falou aos jornalistas e defendeu que será necessário um Governo “que possa inspirar confiança às pessoas”, Passos Coelho disse acreditar numa vitória social-democrata nas eleições de 10 de março e manifestou também a esperança de que o “país saiba identificar no atual Governo que está a cessar funções responsabilidades graves na situação a que o país chegou”.
“Suficientemente graves para que o primeiro-ministro tenha sido o único de que eu tenho memória que se tenha sentido na necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura”, salientou o antigo governante.
As raras declarações de Pedro Passos Coelho geraram reações dos principais intervenientes políticos, muitas delas envoltas em críticas contra o social-democrata.
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