“Então, agora o PS rasgou o acordo. O PS decidiu, mais uma vez, fazer o acordo com o patronato e com os grupos económicos e rasgar o acordo com os trabalhadores, que era o que se impunha ontem [quarta-feira]”, afirmou o líder do PCP.
Em declarações aos jornalistas, em Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, Paulo Raimundo vincou que não foi “a primeira vez que o PS” teve “oportunidade de tomar as decisões no sentido correto do ponto de vista dos direitos dos trabalhadores”, mas optou por “se subjugar aos interesses dos grupos económicos”.
Questionado pelos jornalistas, após visitar e discursar na associação local de reformados, pensionistas e idosos, o líder comunista comentou o facto de várias propostas do PCP de alteração da legislação laboral terem sido ‘chumbadas’ na Assembleia da República, na quarta-feira, numa votação na generalidade que os partidos à esquerda do PS disseram ser um teste para eventuais acordos após as legislativas.
As propostas em questão incluíam acabar com o regime de caducidade da contratação coletiva, a reposição do princípio do tratamento mais favorável do trabalhador, o aumento do pagamento do trabalho extraordinário em 50% na primeira hora e 75% nas horas seguintes em dias úteis ou ainda a limitação no recurso ao sistema de turnos ou de trabalho noturno.
Todas estas medidas foram chumbadas com os votos contra do PS, PSD e IL e votos favoráveis do PCP, BE, PAN e Livre. O Chega votou contra a reposição do tratamento mais favorável do trabalhador e o fim do regime de caducidade da contratação coletiva e a favor nos diplomas relativos ao trabalho por turno e noturno e aumento das horas extraordinárias.
Na quarta-feira, ainda antes da votação, em declarações no Carregado (Lisboa), o secretário-geral do PCP admitiu iniciar de imediato as negociações para um acordo com o PS se os socialistas viabilizassem este projetos no parlamento.
Paulo Raimundo disse hoje que o que tinha dito “foi um desafio ao Partido Socialista”, o qual “provou ao que vem”, escolhendo os “25 milhões de euros de lucros por dia” dos grupos económicos.
O secretário-geral do PCP admitiu que, para as eleições legislativas de 10 de março, “não há portas nem abertas nem fechadas” e que o que interessa é discutir “os conteúdos” e não “qual é a forma”.
O que aconteceu no parlamento “é revelador do que é que é o PS”, argumentou Paulo Raimundo, frisando: “O PS é só um. E o PS ontem já era o PS do Pedro Nuno Santos”, que “decidiu votar contra” projetos que “respondem às necessidades” da população.
Em relação ao PS, “não vale a pena virmos com as ilusões de que há novos líderes e começa tudo zero, que é possível limpar as responsabilidades anteriores, [passar] uma esponjinha sobre o passado”, ironizou.
“Connosco não. Nem sequer alimentamos ilusões, nem alimentamos nem damos nenhum espaço a que se queira convencer-nos de que o caminho que é preciso é o caminho da política de direita, que é isso que tem acontecido nos últimos 2 anos”, acrescentou Paulo Raimundo, esclarecendo que, após as eleições, “com a força que o povo” der ao partido, o PCP fará “todos os acordos que se traduzam em questões positivas para a vida das pessoas” e “para travar tudo aquilo que é negativo para a vida das pessoas”.
Leia Também: “Voto no PS é uma ilusão e daí não virá solução para as nossas vidas”