O anúncio do regresso da Aliança Democrática (AD) despertou a direita portuguesa antes da pausa para o Natal, com o PSD e o CDS-PP a recuperarem uma coligação histórica para as Legislativas e a confirmarem um acordo pré-eleitoral para irem juntos a votos – não só para as eleições antecipadas de 10 de março, mas também as Europeias e as eleições para as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
Para Miguel Sousa Tavares, que aproveitou o seu espaço de comentário na TVI para falar da ‘nova’ coligação, o acordo é proveitoso para o PSD porque, embora o CDS-PP não traga consigo muitos votos (as sondagens mais recentes colocam o partido democrata-cristão com cerca de 1% ou menos), este traz quadros pessoais mais fortes que os que lideram atualmente os sociais-democratas.
“Seguramente que coloca mais qualidade na campanha eleitoral do PSD. Como vimos no último congresso, o PSD não tem grandes figuras de grande destaque atualmente. E se nos lembrarmos da primeira fila do congresso do PSD, tínhamos lá Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Leonor Beleza, figuras do passado. (…) Não se faz política com referências do passado”, explicou Sousa Tavares, acrescentando que “o CDS tem claramente mais quadros que o PSD”.
“O défice em votos que o CDS tem compensa com muitos melhores quadros que o PSD, e isso viu-se no último congresso”, reiterou.
O comentador e escritor considerou que, para o lado do CDS-PP e de Nuno Melo, o acordo trata-se de “uma ressurreição”. “Se o CDS não aproveitasse esta boleia, desaparecia definitivamente da cena política portuguesa. O método de Hondt [o método matemático usado pela Comissão Nacional de Eleições para converter votos em mandatos] não vai favorecer a coligação porque o CDS tem poucos votos, mas as figuras do CDS vão trazer brilho a esta coligação”, disse.
“Fazem bem em excluir o Chega à partida”
Os outros partidos na direita portuguesa ficaram excluídos do acordo. O Chega por intenção do PSD e o CDS-PP, o que não deixou André Ventura satisfeito. Mas Miguel Sousa Tavares considerou que ambos os partidos “fazem bem em excluir o Chega à partida”.
“A questão é saber depois, em função do resultado eleitoral, se continuarão a fazer bem em excluir o Chega. E se, admitindo que a direita e o centro-direita serão maioritários, se querem meter o Chega no governo, se o Chega se contentará em ficar apenas a dar apoio parlamentar a essa maioria ou se vai exigir ir para o Governo”, apontou.
Quanto à Iniciativa Liberal, já que esta se “indispôs-se para fazer parte de uma coligação pré-eleitoral, estava fora de questão”. Rui Rocha, o presidente do partido, sempre manifestou a vontade da IL em partir para as Legislativas sozinha.
Luís Montenegro e Nuno Melo anunciaram esta sexta-feira o regresso da Aliança Democrática para as eleições para a Assembleia da República, sendo que os dois partidos continuam coligados em várias autarquias pelo continente e também nos governos da Madeira e dos Açores (sendo que este último caiu, após o chumbo do Orçamento do Estado para 2024 da região).
De recordar que o CDS-PP, um partido que esteve na fundação da democracia e que foi sempre uma presença constante no Parlamento, ficou sem representação parlamentar após as legislativas de 2022, na altura sob a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos. O CDS-PP mantêm-se com um eurodeputado, que é precisamente o seu líder eleito em 2022, Nuno Melo.
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